A enquete de Fátima Bernardes é o espelho de nossa esquizofrenia social








Em primeiro lugar, a pergunta, convenhamos, não é das mais inteligentes. Aliás, ela não é inteligente de forma nenhuma. Tem um viés sensacionalista [por isto haver se tornado polêmica] e, sobretudo, divorciado da verdade. Afinal, nossa carta magna, a constituição federal, garante  o socorro ao policial quanto ao traficante. Assim como o código de conduta médica, como ressaltou o médico cirurgião que participava do programa.

A despeito disto, sinceramente, às opiniões não foram distantes do problema, embora sob o efeito manada que a pergunta em si produz; alguns optaram por escolher um lado do painel para que assim pudessem responder a idiota pergunta editorial.

No entanto, o que me chama a atenção mesmo, é o barulho nas redes sociais. Aí, sim, você vê a imbecilidade ganhar reverbérios enormes e dissonantes. Não demorou para que alguns postassem o lado escolhido a fim de serem solidários a tão sucateada polícia brasileira. Ironicamente, um ou dois dias depois, quatro policiais perderiam sua vida na queda de um helicóptero durante uma operação em umas das comunidades do Rio de Janeiro, pronto!; a polêmica exacerbou-se e o programa de Fátima Bernardes ganhará mais audiência, não sem antes sofrer algum boicote promovido pelos revoltados internautas.

O provérbio bíblico retrata bem esse tipo de efeito cascata quando diz que um abismo chama outro abismo. Vejam como uma pergunta idiota pavimenta toda uma confusão coletiva e, pior que esse exarcebamento, é constatar que estamos diante de um padrão reprodutível a muitos outros temas que geram as “polêmicas ” de nossa sociedade.

Afinal, a polêmica é o espelho da alma do mundo atual. A polêmica só existe porque há polos (redundância etimológica) e estes polos refletem uma sociedade angustiada por um messias e encurralada pela carência que a forja. Para atender esta carência, somente um Messias. Um Messias Bolsonaro? Seria o fim da picada! Mas existe algo pior e mais virulento que a opção de um bolsomito— é o vírus cultural que as esquerdas no Brasil, sob a tutela do PT, conseguiram elevar a altos níveis de contágio das várias camadas de nossa já débil sociedade.

Mas sejamos honestos, antes de tudo, a nós mesmos: somos uma democracia neófita e reconhecer-se assim, não deve gerar em nós nenhum tipo de vitimismo ou complexo inferior, pelo contrário, devemos aproveitar o momento de tanta confusão para extrair o máximo de nós, como vestibulandos ambiciosos para o curso de medicina.

Se conseguirmos distinguir confusão e complexidade, já teremos dado um grande passo rumo ao amadurecimento. Isto porque, só assim saberemos discernir estes tempos sombrios e evitarmos a senda para qualquer um desses extremos da polêmica (embora tenhamos muitas vezes que escolher, mesmo, um lado) que atende mera e unicamente o sensacionalismo de uma imprensa que em sua maioria é passional aos temas do “bom mocismo” hipócrita das esquerdas. Vejam que estou falando de um lado, o que implica haver outro lado dos quais (ambos os lados) nossa democracia ainda pueril, discute a coerência e a efetividade deles, o que na práxis, é mais pedagógico que eficaz para a evolução de uma sociedade.


Não obstante a meu ceticismo social, rego-me de esperança, pela fé, que dias melhores virão e nossa redenção se aproxima. Eu acredito que pessimismo não condiz com quem tem esperança, e, talvez seja este o meu quinhão na vida e aquela parte necessária que ninguém poderá tirá-la . Como Camões no primeiro quarteto do seu soneto de esperança:

“Busque Amor novas artes, novo engenho
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho”.


Por Fernando Lima.





Imagem: site ultradowlounds/papeisdeparede

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