A SÍNDROME DE SMEAGOL X GOLLUM E A REALPOLITIK DE MARINA SILVA






Num percurso de 24 anos de esforço intelectual, tateei entre a aceitação da impotência de minha razão para entender a fé que professava (fideísmo) e o esforço de racionalizar a fim de não anular a elementar intelecção que pulsa dentro de mim (racionalismo).

Foi indo a estes extremos que descobri que existe um “caminho do meio”. Que é possível pensar sem pôr em detrimento a fé, e vice-versa.

Quando eu trouxe isto para o campo da análise política, foi um desastre. Este desastre teve a cooperação muito intensa da teologia da libertação (Boff e outros) e de teólogos de liberais (de Schleiermacher a Barth, este último considerado neo-ortodoxo) à minha formação.

Quando se traduz um tal "caminho do meio" no campo da política, é mais ou menos o que C.S Lewis chamou de "esnobismo cronológico", no sentido de que "tudo o aquilo que ficou desatualizado, é por isso desprezível". Ou seja: não é por que temos supostas alternativas de espectros ideológicos, que se vá negar o que já existe na tradição da história da política, sobretudo, querendo resinificar o que já existe, numa espécie de neo-axiologia que não bebe nada da esquerda nem da direita.

Essa tentativa não é ambígua. Ela é contraditória. Ou você assume-se bebendo da fonte x ou da fonte y. Não há o que tergiversar.

Em uma entrevista, Marina Silva, depois de provocada a uma afirmação como "não se trata de ideologia, teologia da libertação etc.", ela respondeu algo como: "vamos sim aplicar o que a teologia da libertação e outras correntes dizem". Ou seja: ela criou a neo-realpolitik que não se assume explicitamente de esquerda, mas não nega por origem.

No campo político é como você entrasse em um ônibus onde alguns obrigatoriamente sentam a direita e outros a esquerda, seja esta entrada pela porta dos fundos ou pela dianteira. E, ao entrar, de repente, você se dá conta de que o ônibus está cheio. Naturalmente a sua opção é ficar de pé. Estando em pé, você estaria numa posição de isenção. Mesmo assim, não estaria incólume a algumas decisões, tais como: manter-se quase inerte seguro ao corrimão superior; buscar a melhor forma de conviver com os infortúnios do aperto ao perceber que está cercado de várias pessoas aparentemente na mesma situação que você, e quem sabe com razões e motivações diferentes das suas, como aquele passageiro que diz que vai reclamar a empresa de transporte público sobre o superlotamento. Ao reclamar, você admite que precisa garantida a sua opção de sentar-se.

Por Fernando Lima

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A criminalização das vaquejadas é uma vitória do politicamente correto

Sobre o Ideal de Piedade Cristã