A morte no tribunal dos alhos e bugalhos




Hesitei (como tenho sempre feito aqui desde um bom tempo) emitir qualquer opinião. E agora a respeito do episódio trágico da vereadora Marielle Franco. Isto porque o agito das turbas produz sempre aquele efeito de inércia para a burrice.

Independente das linhas de investigação, é inevitável a repercussão quando se trata de uma persona de militância pública. Portanto, as comparações trarão generalizações que, embora tenham alguns aspectos verdadeiros, sempre pontuarão outros injustos e incompletos.

Então separemos alhos de bugalhos!

A repercussão interessa antes de tudo aos meios comunicação como produto. Embora a faça muitas vezes alinhados a vieses ideológicos, repercutir é seu dever para o bem ou para o mal.  Com isto quero dizer que o que está em voga não é a repercussão, mas a exploração da mesma para fins político-ideológicos e, isto ainda não é a questão.

Qual é, então, a questão?

A exploração política é, em bom baianês, “escrota” e nauseante, quando ouvimos algo como “essa bala foi azeitada pelo golpe que este parlamento deu. Marielle era contra a intervenção federal no Rio de Janeiro e dizia ‘fora, Temer’.” Mas falo isto do ponto de vista de alguém que já perdeu um pai e sabe o que é a dor de um amigo e ou parente apertar o peito. Pode ser que um parente também se alinhe ao que disse a deputada, embora a dor mesmo, não se vista de nada além da ausência, saudade e vazio.

Digo isto porque considero hipócrita fazermos de conta que essa exploração política-ideológica não nos interessa em alguma circunstância que estejamos em militância a favor ou contra.

Todavia, ainda que as investigações venham concretamente comprovar o vínculo da triste morte da vereadora com as últimas investidas do governo federal no Rio, ainda assim: a fala da deputada Érika Kokay é daquelas explorações eleitoreiras que sarram, literalmente, à cara de qualquer cidadão minimamente capaz de discernimento das coisas simples. Repecutir a morte de uma figura pública será sempre objeto da comunicação, mas quando ganha contornos eleitorais e de engajamento ideológicos, deveria ser insuportável, embora nada disso seja antinatural a história da humanidade.

Por isto, tenho me tornado mais cético a cada dia (irmãos de fé, não se preocupem, meu cetismo não escapa do caminho de Damasco) porque descobri no “ceticismo” o caminho de nos tornarmos menos hipócritas, quando a maioria de nossas pautas e opiniões aos borbotões nos servem apenas (sem admissão) para nos tornarmos estimados, como se diz em O Príncipe de Maquiavel: “o príncipe faz-se estimado quando sabe ser verdadeiro amigo e verdadeiro inimigo, isto é, quando, sem qualquer preocupação, age abertamente em favor de alguém contra um terceiro. Essa atitude será sempre mais útil do que conservar-se neutro”.

É assim que, nada sendo novo debaixo do sol, as Esquerdas se apropriam do triste episódio para alavancar sua força, enquanto as direitas tentam provar que ela está bebendo do próprio veneno. Embora, como eu disse acima, existam aspectos verdadeiros em ambos os lados em suas ponderações, tais aspectos serão injustos e incompletos, quando fatos e direitos são presumidos de modo indistinto pelo grito e pela balbúrdia.

Qual é, pois, a melhor atitude diante de tanto barulho? É uma pergunta um tanto qualitativa, não acham? Talvez não tenha resposta, quando o que está em voga é a quantidade de juízes e advogados reunidos num tribunal virtual, onde as únicas jurisprudências são as fake news.

Por Fernando Lima



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A SÍNDROME DE SMEAGOL X GOLLUM E A REALPOLITIK DE MARINA SILVA

A criminalização das vaquejadas é uma vitória do politicamente correto

"É nós e depois de nós, é nós de novo"