Que remédio social você anda tomando?



Vivemos tempos muito complexos. Seja no ambiente político, religioso ou mesmo na secularidade. Nos dois primeiros, os sintomas são bem mais fáceis de identificar por serem mais previsíveis, enquanto que na secularidade, tudo fica mais obscuro, porque reúne elementos da política e da religião, seja negando ou afirmando, mas tudo em torno de uma aspiração ideológica. E leia-se aqui secularidade não a stricto sensu, mas no sentido do que é fora dos ambientes político e religioso.

A despeito da distinção dos sintomas, os três ambientes se imiscuem na construção de nossa cultura e valores. E é exatamente por se imiscuírem com todas as nuances, perspectivas, negações, afirmações, construções teóricas etc., que se constitui a complexidade. 

Ou seja: o homem social busca na política o ideal de felicidade, à semelhança do religioso na religião, assim como o agnóstico ou ateu no ceticismo e na descrença. No final, todos buscam uma solução mesmo que seja através da negação dela – da solução.

Esse emaranhado é pavimento imediato para soluções messiânicas de curto, médio e longo prazo.

Embora na construção cultural e de valores se negue a homogeneidade de pensamento afirmando ser maléfica e totalitária, a heterogeneidade sob o pretexto da diversidade, uma vez dominante/hegemônica, terminará por se tornar semelhantemente totalitária. 

Tudo isto é cenário perfeito para o messianismo. O messianismo constrói teoria social, institucionaliza, regulamenta e apresenta um diagnóstico tão objetivo a sociedade enferma, que em pouco tempo quase ninguém será capaz de discernir as reações do remédio que lhes fora prescrito.

Embora eu carregue em mim paixão por ações pontuais e de grande proporção, se possível, a favor de pessoas ou um de grupo delas, sempre na tentativa de conscientizar a dignidade humana, todavia, não tenho em mim nenhuma expectativa de solução ou salvação dos males da humanidade.

O remédio do messianismo é a ideologia apreendida como solucionadora dos problemas humanos. De um lado se oferece o Estado como solucionador dos problemas, dando-se tudo o que poderia ser conquistado pela capacidade individual de pensar os caminhos da aquisição. Do outro lado, se discute a possibilidade de que com menos Estado a “seleção natural” cuidará de colocar cada coisa no seu devido lugar.  No primeiro aspecto,  em pouco tempo a sociedade deixa de pensar em razão do conforto do bem-estar social. No segundo ela se torna míope para o problema social.

Com isto, não estou me isentando de possuir algum viés ideológico nas questões de como enxergo os meios e soluções políticas para a sociedade.  Porém, prefiro estar atento ao que é oferecido como remédio, por que se há um modo de ler a sociedade, basta que se entenda o que ela pensa. Mais que isto, o que lhe foi dado para pensar.

Os messias por aí sabem que o povo gosta de pão e circo. Assim, amamos as benesses do Estado para nos divertirmos bastante no carnaval.


Por Fernando Lima

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