O debate ideológico com base nas últimas eleições: evolução, retrocesso, consenso, hegemonia cultural



A quem espera ser parcial ou fielmente representando ideologicamente, não espere isto pelo menos nos próximos 20 anos no Brasil. Daqui até lá, o que se terá ainda será apenas alguns gatos pingados, à semelhança do que já começou nesta eleição em São Paulo, ao ser eleito o jovem Fernando Holiday, negro, gay, de origem pobre e declaradamente de Direita, sendo um dos protagonistas de um movimento que ganhou projeção nos protestos que desembocaram no impeachment da presidente Dilma Rousseff. 

Primeiro - sem entrar no mérito das forças que o elegeram - acho essa necessidade de ser representado ideologicamente de forma plena algo que caminha para o fascismo, seja de que lado for. Não acredito em pureza ideológica assim como não tenho dúvidas que qualquer hegemonia de pensamento e cultura pode se tornar o pavimento perfeito para uma ditadura com a cara e a benção de um povo, assim como o Brasil ensaiou dar em rápidos passos com o PT no poder. 

Quero deixar claro que não vejo na queda do PT, seja pelo impeachment e agora com a derrocada nas eleições das prefeituras, um rompimento total com o pensamento hegemônico esquerdista chancelado pelo referido partido e coligações que tinham um plano e projeto de poder alinhado com os ideais bolivarianos para América Latina: Não! O que vejo em partidos como o DEM que venceram vantajosamente nas principais cidades da Bahia, como Salvador, Feira de Santana e Camaçari, é que passam longe de ser uma representação fiel de uma ideologia de Direita, sendo apenas, e como o será por muitos anos, mais uma sigla que tem certos aspectos liberais em economia – um resultado mais pragmático que ideológico e que não deixará de atender os apelos populistas quando achar necessário. 

Outro aspecto fatal: O pragmatismo político é para o mundo político um sensor ativo às demandas democráticas, assim como o fisiologismo (troca de favores) é para o pragmatismo político uma necessidade de convergência para regular sua permanência no poder com o objetivo primeiro de levar adiante seu projeto de Governo...Ou de Poder.

Mas volto: Esquerda e Direita sozinhas, serão sempre fundamentais na mesa do debate, inclusive no ambiente acadêmico. No entanto, a relação poder-democracia exige mais. Os gritos de minorias em certa altura do tempo ganham engajamento e se tornam maioria, se o apelo for justo e a causa evidente. Ou se as forças representativas no Congresso se articularem para o fortalecimento de alguns movimentos sociais que se alinhem com eles em certo nível. Afinal, não podemos ignorar que nossos três poderes parecem, às vezes, - a despeito dos avanços na representação institucional -, um verdadeiro balaio de gatos e lebres tentando se comunicarem.

Ao meu ver, se conseguirmos avançar em certo grau de liberalismo econômico - diminuindo a intervenção do Estado, por exemplo-; mais um pouco de conservadorismo que se faça preservar às instituições que regulam a democracia e que consiga abranger tanto a mudança quanto a preservação [tradição] cultural: teremos avançados  muito em nossa jovem democracia. Igualmente, sem que se ignore algumas pautas que embora  monopolizadas pela Esquerda sob o virtuosismo e o politicamente correto [ ambos uma encheção de saco], não podem ser de nenhuma forma ignoradas, como a violência contra a mulher, e o direito civil aos casais homossexuais - não obstante sabermos que há muito joio e trigo para serem separados nestas pautas.

Mas prefiro o olhar linear de que isto ainda vai demorar muito até que o debate seja mais democratizado. Até que ele – o debate - consiga chegar aos rincões do sertão brasileiro, onde a política ainda é velha e confusa no sentido de se traduzir para o povo de forma meramente pragmática, panfletária e paternalista economicamente; gerando o encabestramento eleitoral e a prática de crimes eleitorais sem a fiscalização rigorosa que vimos ascender nestas últimas eleições municipais nas grandes cidades e capitais.

Essa briga por pureza ideológica tão berrante nas redes sociais, é apenas uma fotografia do rosto pueril do debate e, talvez, um prognóstico para às gerações futuras sobre nossa evolução, que não a chamarei de tardia num mundo em que tendo os braços e pernas evoluídos que temos nos convidando ao movimento, optamos por sedentarizar o corpo, a mente e pouco nos lixamos para a transcendência. O resultado disso na história? 

Quem viver, verá!  Ou: lerá...


Por Fernando Lima.

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