A tensão pecador versus santo e nossa paranoia: um paralelo do filme Perfume e o Cristianismo
“O perfume: a história de um assassino” é o livro que foi adaptado à superprodução do diretor alemão Tom Tykwer no filme “Perfume: a história de um assassino”. O filme que narra à dramática história de vida do personagem Jean Baptiste Grenouille, jovem filho de uma feirante, na idade média, que o abandonara junto a restos de peixes e que carrega consigo um dom natural que o habilita a uma mega capacidade olfativa, possibilitando-o sentir todos os possíveis cheiros do mundo.
O filme mostra a saga do jovem Baptiste em perseguir todos os cheiros e explorá-los, aliado à sua ambição de encontrar aquela nota da essência mais profunda. E que Baptiste a reconhece depois de observar uma linda jovem em sua plena beleza natural.
O desfecho rico de detalhes (e claro que eu vou poupa-los deles) apresenta às evidências da essência da natureza humana, quando reunidas todas às notas [essências], ele consegue compor um perfume cuja essência principal exala o poder, a fama, a sensualidade, às paixões desenfreadas e os sentimentos mais primitivos; assim como a anulação da censura moral e uma espécie de anomia (ausência de leis).
Foi recordando deste filme que me veio à mente o texto bíblico onde o apóstolo São Paulo fala sobre a comunidade cristã ser o bom perfume que exala o cheiro do conhecimento de Cristo. Lá também se diz que, para alguns, seria cheiro de morte. Para outros, cheiro de vida.
O paralelo entre o perfume de Jean Baptiste e o que o apóstolo Paulo relata, nos remete para muitas percepções, constatações e reflexões sobre a natureza humana. Ainda que dogmatizadas e pervertidas doutrinariamente, o conflito entre o pecaminoso e o santo, o virtuoso e o licencioso; continuam sendo uma reflexão à qual estamos de algum modo vinculados religiosa ou culturalmente.
Assim é porque em Baptiste se tem às evidências da natureza humana. E em Paulo as virtudes cristãs como antítese. Onde se fala em poder, o Cristo fala dos pobres de espírito. Onde se fala de fama, o Cristo fala de resignação e discrição. Onde se fala em paixões desenfreadas, o Cristo propõe domínio próprio.
Eu poderia remeter a uma outra problemática, do ponto de vista Kierkegardiano, quando o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (início do século XIX) ao conceituar a angústia humana, a resume como à síntese entre o temporal e o atemporal. A tensão dos nossos anseios de perfeição no eterno com às vicissitudes do existir.
Porém, prefiro parar por aqui por saber-me escrevendo a minha geração tão apressada e inquieta. E, por isto, deixar com você, amigo leitor, a reflexão sobre esse sofrimento binário do ser humano, seja este religioso ou ateu.
Eu, todavia, acho que não dá para viver apenas pelas emoções, na mesma medida que ninguém é cem por cento são quando persegue à " razão das virtudes”.
Sem um certo equilíbrio, incorremos no mal-estar social, assim como o é na paranoia da santidade religiosa, que pode também ser traduzido no indivíduo não religioso como pânico moral.
Talvez a melhor síntese seja a da filosofa, ops!, política Marta Suplicy que desaconselhou os nervosinhos durante a crise dos aeroportos em junho de 2007: relaxa e goza! Isto pode ter, sim, um sentido metafórico para os que descansam nos ensinos do Cristo e sabem que nosso esforço pessoal é mais paranoico que santificador.
Por Fernando Lima.
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