Positivismo e melancolia: a síntese de todos nós

Positivismo sem melancolia é como lamber a manteiga do pão, desprezando todo o resto por aquele sabor imediato. Entenda aqui a melancolia como aquela reflexão involuntária tanto quanto inevitável diante das contradições e ambiguidades da vida.

A melancolia é quem nos salva do fútil. É quem nos sinaliza a efemeridade da vida; é quem grita para nós todo dia nossa transitoriedade.

Já o positivismo é aqui entendido como conceito plástico de mentalização e performance. Não é o mesmo do filósofo francês Comte (séc XIX) que inspirou o contraditório lema de nossa bandeira.

Sabe aqueles conceitos "quânticos" de construção da realidade aplicada a técnicas de venda e vendidos como receita para felicidade? Sabe aqueles "dez passos para o sucesso" reciclados em milhões de livros de autoajuda?


Não. Não nego a natureza da positividade, como qualidade do que é atitude positiva, otimista (embora otimismo seja outra palavra reciclada pelo positivismo), como sendo uma psicologia viável e necessária. 

Todavia, o que me incomoda mesmo são os clichês gerados por este positivismo desprovido de profundidade e que nega nossa melancolia essencial em nome de uma performance altruísta e messiânica.

Um desses clichês é aquele que diz que " não existe lugar para tristeza", aliás, acrescentaria um outro que é o "sorria para vida" e o indivíduo se vê obrigado a postar um selfie sorrindo quando na verdade o que  ele queria era chorar.

Isto porque o positivismo carrega sempre ares de um triunfalismo moral e espiritual, como se os seus confessores fossem superiores  a essas castas de gente frustrada.

Positivismo sem melancolia é o fermento da hipocrisia, já que lá no fundo, todos nós às vezes preferimos um quarto escuro a uma roda de amigos regada a cerveja e churrasco.

Fernando Lima.




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