Sobre o problema moral da metafísica de classes - Por Fabricia Miranda

Sobre o problema moral da metafísica de classes (trecho)

(...)
Se acredito que existe uma história com um mecanismo embutido que lhe dá sentido, também posso acreditar que o conhecimento desse mecanismo será capaz de me revelar as suas leis. E aí já estabeleço uma distinção geradora de poder, separando os que conhecem essas leis e os que não as conhecem. Os que não conhecem devem ser então conduzidos pelos que conhecem para que possa se cumprir o desiderato histórico. Note-se aqui que não é uma interação de opiniões que conduz a história e sim um saber sobre a história que confere a alguns agentes a capacidade distintiva de orientar os demais. O agente tem a episteme que o coloca num patamar diferente da massa que só possui a doxa. Isto é, rigorosamente falando, um platonismo que, como todo platonismo, só pode levar à autocracia, não à democracia.

As consequências dessa metafísica no campo moral são desastrosas. Os que conhecem a marcha da história não podem ter a mesma moral dos que não conhecem. Postando-se ao lado da classe que tem a missão histórica de acabar com a sociedade de classes por meio da luta de classes, o agente da história não pode ter a mesma moral do que a de seus inimigos. Há duas morais, a "nossa" e a "deles" (como disse Trotski num panfleto). Mas a existência de duas morais é, em si, um problema moral. Havendo uma moral da classe redentora, aquela cuja realização de seus interesses vai, supostamente, nos levar para o reino da liberdade e da abundância (na utopia autoritária do marxismo), ela sempre será superior à moral da outra classe. Isso é o fim de qualquer noção de moral. Pois os atos praticados em nome do processo que nos levará à utopia são sempre julgados como corretos e justificados pelos seus fins, enquanto que os atos cometidos pela outra classe, mesmo que sejam corretos, não podem ser bons enquanto não nos levam para o desiderato já inscrito na história. Pessoas impregnadas por tal metafísica justificarão qualquer coisa em nome de seus objetivos generosos. Quando começam a fazer isso, é sinal de que já se manifestou nelas uma afecção moral. (Augusto de Franco)

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Para um cristão que seja de fato cristão (os que vivem como Cristo ensinou E a partir do RECONHECIMENTO de que ele é Deus e ressurreto e de que morreu para que vivessem, embora pecadores, pela GRAÇA e por ela fossem 'salvos', não por uma evolução espiritual 'autônoma'), é exatamente por isso que a única redenção moralmente possível (julgamentos/separações, redenção/resgate, instauração do novo mundo/reino de justiça) só pode se realizar fora do tempo e fora do humano. Ou seja, em Cristo e no que chamamos "tempo final".

Qualquer outra ideia de redenção pode levar à ideia de julgamento, separação e limpeza "justificados" e corre sempre risco de desembocar em seus personagens extremos, como Stalin, Hitler, Lenin, Mao, Guevara, Chavez, Maduro, ISIS...
Mesmo entre aqueles que se pensam cristãos. Porque também o cristianismo tem seus exemplares humanos medonhos dentro da história.

Por Fabricia Miranda

Comentários

  1. NOVAMENTE. INDIQUEI O TEXTO PRO FERNANDO E FIZ UM COMENTÁRIO. O TEXTO É DO AUGUSTO DE FRANCO, PUBLICADO NO FACEBOOK. ;)

    MEU É SÓ O COMENTÁRIO FINAL. :)

    F.M.

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